Cauda espinhosa e capacidade de 'inflar o corpo': veja como lagarto-rabo-de abacaxi se protege de predadores
21/11/2023
(Foto: Reprodução) Espécie é endêmica da América do Sul e tem como principal habitat o Cerrado brasileiro. Biólogo detalha método de defesa do réptil. O réptil mede aproximadamente 15 cm e seu principal habitat é o Cerrado brasileiro
Willianilson Pessoa
Imagine andar pelo Cerrado brasileiro e observar, próximo ao chão, uma pequena cauda com muitos espinhos, com forma semelhante a um pequeno abacaxi. Essa característica está relacionada à defesa do lagarto-rabo-de-abacaxi (Hoplocercus spinosus), uma espécie endêmica da América do Sul.
O lagarto é um animal de hábito noturno que, durante o dia, cava pequenas tocas na superfície ou utiliza de covas abandonadas por outros animais - como cupinzeiros - para se abrigar. Quando dentro desses buracos, deixa sua cauda robusta e espinhosa para fora, intimidando possíveis predadores.
Para quem vê o lagarto do lado de fora do buraco, a cauda parece com um abacaxi enterrado, o que deu origem ao nome popular do réptil. Em grego, o nome científico hoplon significa "armadura”, enquanto kerkos significa "cauda".
O herpetólogo Willianilson Pessoa explica como funciona o método de defesa da espécie. “Quando há uma tentativa de predação e ele está dentro da toca, ele infla o corpo, enche os pulmões e ‘gruda’ nas paredes dessa toca para evitar que o predador o puxe para fora”, diz Willianilson.
Em algumas regiões, pode receber outros nomes como jacarezinho-da-chapada, lagarto-roseta e jacarezinho-do-cerrado
Willianilson Pessoa
O réptil mede aproximadamente 15 centímetros e pode ser em encontrado, majoritariamente, pelo Cerrado brasileiro. Existem registros da espécie em outros biomas do Brasil, como Mata Atlântica, Caatinga e Amazônia. Fora do país, é conhecido apenas um registro feito em Santa Cruz, na Bolívia.
“Esse lagarto é terrícola – anda no chão – e se alimenta basicamente de cupins, aranhas, besouros, escorpiões, gafanhotos, centopeias e formigas, ou seja, bichos de chão”, explica o pesquisador.
A espécie é apelidada por Willianilson como "dragão brasileiro", remetendo aos répteis alados da cultura oriental. Em algumas regiões, é chamado também de jacarezinho-da-chapada, lagarto-roseta, jacarezinho-do-cerrado, pitoco, lagarto-de-cauda-espinhosa e truíra-peva.
“Eu apelido a espécie de ‘dragão brasileiro’ por que se nós formos colocar uma semelhança na cultura dos dragões do oriente, geralmente são bichos incomuns, não são fáceis de ver e são belíssimos. São bichos coloridos e tem uma certa ‘cara de mau’, embora sejam inofensivos”, explica.
Por viver na superfície, enfrenta como principal ameaça a perda de habitat, mesmo tendo seu estado de conservação categorizado como "pouco preocupante” pelo Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SIBBR). Willianilson acredita que essa classificação seja consequência da falta de informação sobre a espécie.
Espécie possui cauda espinhosa que o protege de possíveis predadores
Willianilson Pessoa
“Várias espécies no Brasil não têm grau de ameaça real divulgado por falta de informações. Imagina agora que estão tendo queimadas no Cerrado, na Amazônia. Mesmo algumas sendo ‘naturais’, a maioria é criminosa, e isso faz os animais sofrerem demais”, esclarece o herpetólogo.
“Por mais que eles se enterrem, a área superaquece e eles torram embaixo da terra ou são afetados diretamente pelo fogo. Mesmo que escapem, eles andam muito pouco. São pequenos, com pernas curtas, e não conseguem andar uma grande área por dia, então se a área for toda devastada, eles não encontram comida”, acrescenta.
Esse vertebrado pertence a um gênero monotípico, isto é, que engloba uma única espécie. Algumas outras espécies de lagarto também recebem o nome de "rabo-de-abacaxi", mas o H. spinosus é o mais adequado a receber esse nome popular, por se diferenciar ecologicamente das outras espécies.
“Lagarto-rabo-de-abacaxi é um nome que pode ser usado para outras espécies de lagartos brasileiros que possuem uma cauda espinhosa, porém o H. spinosus é o mais característico, porque contém em sua cauda ‘escamas modificadas’ em formas de espinho que são mais evidentes”, finaliza ele.
*Texto sob supervisão de Giovanna Adelle
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