Dengue: com 121 mil infectados e 84 vidas perdidas, Campinas teve em 2024 maior epidemia da história
28/12/2024
Metrópole entrou em estado de emergência e momento de pico da doença superlotou hospitais. Com 121 mil infectados e 84 mortes, relembre a maior epidemia de dengue da história
Campinas (SP) registrou a maior epidemia de dengue da sua história em 2024. O número de casos e mortes confirmadas ao longo de 12 meses superou os índices de 2015 que, agora, passa a ser a segunda maior.
Nesta reportagem, o g1 relembra os eventos mais marcantes e críticos da crise, que resultou em 121.095 pessoas infectadas e 84 vidas perdidas. Segundo a administração municipal, em 2025, o cenário pode ser igual ou pior ao deste ano.
*O número de contaminados e mortos informados na reportagem foram atualizados pelo município em 23 de dezembro. Até o fim de 2024, o saldo final pode ser alterado.
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O município estava em alerta para uma explosão de casos com gravidade desde o final de 2023, quando a administração municipal identificou a reintrodução dos sorotipos 3 e 4 da doença, que não circulavam em Campinas desde 2009 e 2014, respectivamente.
De acordo com o painel de arboviroses da metrópole, que é atualizado diariamente, o primeiro óbito por dengue foi confirmado na quarta semana de janeiro. Desde então, Campinas entrou em uma crescente, atingindo o pico em abril, quando superou 2015 ao chegar a 65,8 mil contaminados.
1. Campinas teve o maior número de casos e mortes da série histórica
Mosquito da dengue.
Reprodução/EPTV
A epidemia mostrou a sua força logo no início do ano. O primeiro trimestre teve o maior em número de casos da história para o período, segundo o Departamento de Vigilância Epidemiológica (Devisa), e já representava 3ª maior epidemia desde 1998, quando os dados passaram a ser contabilizados.
📈 Naquele momento, quatro pessoas já tinham sido vítimas da doença, e os 27 mil casos de 2029 já tinham sido superados no fim de março. Um mês depois, se tornou a maior epidemia de dengue da cidade com 65.808 casos. Em 2015, superou foram 65.754 contaminados durante todo o ano.
O total de vidas perdidas também ultrapassou a soma das vítimas registradas nos últimos 12 anos, quando 47 moradores morreram em virtude da dengue entre 2012 e 2023. Compare os números de dengue entre 2012 e 2024, abaixo ⬇️
2. Campinas decretou estado de emergência para dengue
Com a confirmação de 14,8 mil casos e de três mortes, a administração municipal instituiu estado de emergência para dengue em 7 de março, indo de encontro a decisão estadual, que também adotou a medida emergencial dias antes
O decreto foi estabelecido quase um ano depois da cidade declarar situação de epidemia pela doença, em abril de 2023. Com ele, a metrópole teve a permissão da adotar medidas necessárias para a contenção do aumento de casos de dengue com maior flexibilidade e sem necessidade de licitação.
Após identificar uma queda no registro de novos casos de dengue em junho, a Prefeitura decidiu revogar o decreto de emergência sanitária. Segundo a então diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Andrea von Zuben, a redução foi causada pela chegada de temperaturas mais frias, o que reduziu a circulação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença.
Mosquito do Aedes aegypti, transmissor da dengue
Carlos Bassan/Prefeitura de Campinas
3. Campinas atingiu pico da epidemia e hospitais públicos superlotaram
A metrópole viveu o pico da dengue entre 7 e 13 de abril (semana epidemiológica 15), com o número de pelo menos 8.515 moradores com dengue. Este foi o maior volume de pessoas com sintomas e confirmação da doença em uma única semana na cidade em toda a série disponível no Painel de Arboviroses, com dados desde 2012.
Com alta da dengue, somada aos casos de doenças respiratórios, hospitais da rede pública de Campinas enfrentaram lotação de até 100% em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria. O cenário foi constatado em abril, quando os hospitais Mário Gatti, Ouro Verde, Beneficência Portuguesa e PUC-Campinas declararam que todos os leitos das unidades, da enfermaria e UTI do Sistema Único de Saúde (SUS), estavam ocupados.
Na época, o Hospital Beneficência Portuguesa declarou que a demanda de internação foi alterada por 'questões de rotina', como quadros pulmonares e neurológicos, mas que os casos de dengue também levaram a uma sobrecarga no pronto-socorro.
Hospital Beneficência Portuguesa, em Campinas
Luciene Beck
4. Campinas imunizou crianças e adolescentes contra a dengue
Enquanto registrava o maior número de infectados pela doença, Campinas iniciou a vacinação contra a dengue para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, em 11 de abril. A metrópole recebeu 18.063 doses e as distribuiu entre os 68 centros de saúde.
💉 A aplicação do imunizante na cidade aconteceu depois de uma redistribuição do Ministério da Saúde que, a princípio, não previa doses da vacina contra a dengue para a metrópole e outros municípios da região, apesar de apresentarem alta significativo de casos e terem declarado estado de emergência.
Três meses após iniciar vacinação, a Prefeitura confirmou que estava sem vacina contra a dengue para iniciar a aplicação do reforço. O governo municipal afirmou, na época, que não tinha recebido os imunizantes do estado. Dias depois, a Secretaria de Saúde iniciou a aplicação.
Em meio a diminuição no número de novos casos, no início de outubro, apenas 36,1% dos jovens que receberam a primeira dose retornaram aos postos de saúde para completar o esquema. Dados divulgados no fim de novembro reafirmam o cenário, contabilizando 17,7 mil vacinados com a 1ª dose, 6,4 mil imunizados com a segunda dose (correspondendo a 40,9% das aptas para receber).
Campinas recebe nova remessa de vacina contra a dengue
Fernanda Sunega
5. Campinas registrou queda no nº de infectados pela doença em julho
A cidade teve um alívio no número de casos e mortes em julho, quando atingiu o menor número de novos casos da doença desde a primeira semana de 2024. Entre 14 e 20 de julho, a cidade registrou 345 confirmações. Na 1ª semana do ano, metrópole tinha notificado 396 casos.
Fausto de Almeida Marinho Neto, coordenador do Programa de Arboviroses na cidade, enfatizou que apesar da queda, os números ainda estavam para a período do ano e parte da explicação passa por impactos da mudança climática, com períodos cada vez maiores de dias quentes, que favorece o ciclo de reprodução do mosquito transmissor.
"Essas mudanças climáticas são o ponto-chave, uma vez que aumentam a disponibilidade de tempo para a transmissão, da dengue e de outras arboviroses, como chikungunya, zika e oropouche", explica.
O Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, tem uma grande capacidade de adaptação.
CDC
6. Alta de 1ºC na temperatura pode aumentar casos de dengue em até 40%, diz pesquisa da Unicamp
Uma pesquisa realizada na Universidade Estadual de Campinas apontou que o aumento de 1ºC na temperatura pode elevar em até 40% os casos de dengue na metrópole. O estudo foi publicado na revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e foi conduzido por pesquisadores dos institutos de Economia e Filosofia e Ciências Humanas.
O levantamento cruzou dados mensais de incidência de dengue registrados pela Secretaria Estadual de Saúde, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2022, com as médias de temperatura mensal no mesmo período, estabelecidas pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri).
A relação entre o aumento de chuvas e a quantidade de casos de dengue também foi investigada pela pesquisa. No entanto, os cálculos mostraram que a temperatura é mais importante para configurar um crescimento. Segundo o Cepagri, o ano de 2024 teve temperaturas acima do esperado em todos os meses.
Calor foi o maior desde 1890 em Campinas
Reprodução/EPTV
7. Com maior epidemia de dengue e alta no 2º semestre, Campinas projeta risco de piora em 2025 e define novo plano de ações
Com a projeção de que o cenário em 2025 possa ser igual ou pior ao deste ano, Campinas mantém o alerta ligado para possíveis picos de caso.
Entre os indicadores que preocupam o Departamento de Vigilância Epidemiológica da metrópole (Devisa), estão a circulação dos três sorotipos diferentes, a alta expressiva de casos no 2º semestre e o fato de que uma pessoa pode ser infectada por até quatro vezes.
Além disso, de acordo com dados atualizados pelo Devisa, de julho a outubro de 2024, a cidade teve 3,6 mil pacientes infectados com dengue. No mesmo período de 2023, quando já havia o alerta para a explosão de casos neste ano, o saldo era de 662 infectados, o que indicou uma explosão de registros.
"Temos vários vetores que nos trazem uma grande preocupação, que é uma expectativa de casos iguais ou maior que em 2024, somado a isso ainda um alerta de chicungunya", disse a diretora do Devisa, Wanice Port.
Larvas do mosquito do Aedes aegypti, transmissor da dengue
Carlos Bassan/Prefeitura de Campinas
8. O que diz a Prefeitura de Campinas?
A Secretaria de Saúde municipal comunicou, em 21 de novembro, a expansão do plano de ações que já havia colocado em prática em 2024 para atuar no combate à doença e na remoção de criadouros do mosquito Aedes Aegypti, que transmite a infecção, além da zika e chikungunya.
🗝️ Uma das medidas pretendidas pela administração municipal é o uso de chaveiros para entrar em casas com suspeita de criadouros, que serão identificadas com o uso de drones. A medida tem respaldo judicial desde novembro de 2024, quando a Prefeitura fez a entrada forçada em casas abandonadas ou fechadas para eliminar possíveis focos do mosquito transmissor da doença.
Na época, cerca de 100 focos de dengue foram localizados em oito imóveis nos bairros Centro, Vila Nogueira, Vila Pompéia, Jardim São Jorge, Jardim Cristina, Cidade Singer e Jardim Planalto de Viracopos. Segundo a administração municipal, 75% dos focos de dengue estão dentro das residencias, e habitualmente agentes são impedidos de entrar em metade das casas por recusa ou ausência do morador.
Além dessa primeira medida, Campinas pretende usar de imagens de satélite da Polícia Federal para localizar eventuais imóveis com grandes quantidades de criadouros e usar inteligência artificial para reduzir o percentual de imóveis sem acesso durante ações contra dengue. Confira todas as medidas, abaixo ⬇️
🧑🤝🧑 Capacitar de lideranças de bairros;
💉 Reforçar o estoque de insumos utilizados no tratamento de dengue e chikungunya;
👩🏽⚕️ Capacitar profissionais de saúde das redes pública e privada;
🏥 Reunir com representantes dos hospitais privados;
🏠 Reunir representantes do Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) para a fiscalização em imóveis vazios;
📺 Campanha publicitária educativa em diversos canais de comunicação;
👮 Intensificação do trabalho do Grupo de Resposta Unificada (GRU);
🏚️ Realização de mutirões nas áreas com alta transmissão da doença;
⛪ Reunião com as comunidades religiosas;
⚡ Parceria com a concessionária CPFL na identificação de casas com criadouros e mensagens educativas nas contas de energia.
🏚️ Colocação de aviso nas residências em que as equipes não conseguem entrar.
9. Peguei dengue, e agora?
Como saber se você está com dengue e se é grave
A Secretaria de Saúde recomenda aos moradores que, caso apresentem febre, procurem centros de saúde 'imediatamente para diagnóstico clínico' e não banalizem os sintomas ou façam automedicação.
🌡️ Embora a dengue não tenha um medicamento específico, há uma série de medidas clínicas que podem evitar o agravamento e óbito, se feitas a tempo. Por isso, é preciso ficar atento aos sinais de alarme. São eles:
dor abdominal;
muitos vômitos;
algum sinal de sangramento (gengiva, por exemplo);
menstruação em maior volume, no caso das mulheres;
e sensação de desmaio.
🚨 Ao apresentar algum desses sintomas, o morador deve procurar uma das unidades de saúde da cidade para atendimento médico.
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